domingo, 25 de junho de 2017

Vazio...

Ela olhava tudo atentamente. Nunca se achou curiosa.
Mas sempre observava. O que as pessoas diziam (e como diziam), o que elas faziam, como andavam, como sorriam, o tom da voz... "O que será que aquela pessoa está pensando? Por que será que está sorrindo? Qual a dor dela? Quais angústias carregam? Como será a vida dela?", pensava.
Queria entender a dor dos outros, mas não entendia a própria dor (como se dor precisasse ser entendida).

Ela mesma carregava em si uma dor enorme, um buraco. É como se fosse literalmente um buraco. Um buraco mesmo. Um vazio enorme que não sabia de onde tinha saído (e, caramba, como um vazio pode pesar tanto?).

Apesar de tudo, o sorriso raramente saía do seu rosto.
Algo dentro dela a fazia ficar de pé. Algum motivo havia para viver.
Mas qual era esse motivo? Ela não sabia...

Ao contar a alguém sobre sua dor, lhe disseram: "Engraçado é que você não aparenta sentir essa angústia, esse desespero que me diz sentir". E aí veio nela aquela vontade de desabar e derramar ali todas as lágrimas que carregava.
Mas não chorou.

(13/10/2014)

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